Afinal, o que é blockchain e como ele funciona?

Vi uma matéria esses dias sobre o blockchain e lembrei que no ano passado esse tema foi bastante discutido na EICOM (Escola de Negócios sem fins lucrativos no Reino Unido, onde sou voluntário). Uma das vantagens do tempo livre em casa, em razão da pandemia é poder estudar sobre algo, e foi o que fiz, mas no final me empolguei e resolvi dividir aqui com a minha rede também.

Quando se fala em blockchain, muita gente associa a criptomoedas, contudo, ela não é uma criptomoeda e sim uma tecnologia usada para para lastreamento. A grande característica do blockchain é que a qualquer momento eu posso auditar uma transação. 

Vou colocar do ponto de vista de um ex-desenvolvedor (inclusive fique à vontade para contribuir aqui nos comentários). 

Essa tecnologia parte de um princípio que toda operação terá um identificador único, que chamamos de hash. Se eu estou fazendo uma transação, ela acontece na sequência de uma anterior sendo que a anterior também tem um identificador único. Para eu gerar um identificador único de uma nova transação eu pego o número da identificação anterior e a somo na transação que eu quero fazer agora, pego essa informação e crio um identificador único para ela. 

Vamos dizer que eu tenho dez criptomoedas e que vou transferir pela primeira vez uma delas para minha mãe. Eu pego minha primeira transação e dou um decodificador primário para ela. Vamos chamá-la de “A”. Agora vamos dizer que a minha mãe fará uma transação com esta única criptomoeda “A” para pagar uma parcela de cartão. Ela pagará o banco com essa moeda. Quando essa chave for criada, será utilizada a chave da minha transação “A” que será somada nesta informação ao transacionar uma criptomoeda para o banco e assim, será criada a chave da transação dela.

Vamos supor que a chave de transação dela seja “X” e que o banco quer ter certeza que minha mãe tem uma criptomoeda, ele pode auditar essas sequências de transação. Se ao invés de eu ter mandado uma criptomoeda, eu mandar meia ou nenhuma, a minha transação não teria a chave dela e sim uma outra chave, que chamaremos de “Z”, por exemplo. Quando ela formatasse a chave dela, não seria “X”, e sim “Y”. Dito isso, o simples fato de você conhecer as transações, a chave da transação anterior e a chave que você está procedendo te garante que existe um lastro, uma origem daquela transação.

 

Entendeu o porquê da confiança? Vamos usar agora o exemplo no e-commerce.

Vamos imaginar um acompanhamento de pedido. O cliente fez o pedido e a partir daí foi gerada uma chave, o antifraude me respondeu “OK” em determinado horário, e com isso foi gerada outra chave, caiu dinheiro na conta, o pedido foi aceito na logística e tudo isso está lá registrado apenas no e-commerce, e este pedido não chegou no cliente. A logística demora dez dias para localizar o pedido, além das problemáticas com o atraso, no meio da operação alguém pode ter fraudado a sequência. Um sistema cometeu uma falha e não registrou um pedido que entrou, alguém viu a falha e fez uma carga manual para minimizar o problema o que motivou o erro. Como é que você vai saber se alguém não mexeu no sistema?

Com a blockchain e as informações de usuário, horário que acontece e quando teve a chamada na sequência de informações, você tem muita tranquilidade de falar: está aqui o que aconteceu. Até podem te questionar, mas a técnica te permite falar com certeza o que aconteceu e não existe risco de fraude, de alguém ou algum sistema ter modificado essa informação. Você tem garantia de que não está perdendo informação em um processo enorme. 

Outro exemplo. Um produto que chegou ao cliente com defeito. Vamos supor que é um celular com problema na bobina do viva voz.
Hoje você vai entender de onde veio a produção desse celular, quem foi o distribuidor, qual o conjunto que aquele produto pertence, qual fábrica, etc.

Agora se eu tenho um identificador único e se eu lastreio esses identificadores ao longo de uma cadeia produtiva, por exemplo se eu listo os identificadores únicos dos produtos que fazem parte do aparelho, consigo facilmente entender o que houve com este celular. Isto porque os aparelhos têm identificadores únicos desde lá do produtor que os levaram para a fábrica. Eu consigo lastrear todos os produtos e inclusive identificar os demais que receberam a mesma bobina com defeito e assim criar uma estratégia para levantar todo o lote e pedir a troca.

Eu posso posso fazer isso de uma maneira segura, pois estamos falando de grandes empresas que trabalham com produtos em vários lugares do mundo, potencialmente, transacionando cargas de um navio para outro.

Se um produto com problema foi fraudado porque foi contrabandeado por exemplo, com o blockchain eu consigo ligar desde o produtor do material, do cobre, do silício, até o produto que foi entregue na casa do indivíduo.

Hoje temos celulares remanufaturados, reembalados e usados. Imagina um celular que foi comprado por um cliente e daqui seis meses ele vende esse produto. No limite, eu não precisaria mais de nota fiscal, pois eu tenho o identificador único do produto de onde eu comprei e você pode jogar lá no site de blockchain que você localizará essa transação. 

Se eu falo que esse produto é original e nunca caiu no chão você pode usar o identificador único e ir na assistência técnica e verificar que não houve nenhuma ocorrência de conserto ou de troca de peças. Caso eu diga que troquei uma bateria, o comprador pode com o último identificador confirmar esta informação na assistência técnica. E não há como um terceiro mentir, pois além do identificador do aparelho, também tenho o identificador da bateria no processo. 

Diante dos exemplos acima, existem muitas possibilidades do uso do blockchain para o e-commerce e para o mundo de maneira geral. E para você? Qual outra maneira de aplicar a blockchain?